quinta-feira, novembro 30, 2006

The Illusionist

Com a quantidade insana de estreias semanais nas salas de cinema, tenho tentado fazer uma escolha criteriosa dos filmes a ver, dado que não consigo ir mais que uma ou duas vezes por semana às salas e estreiam cinco ou seis filmes. Esta situação tem as suas vantagens, há muito tempo que não vou ver um mau filme. Até ontem à noite. Não é que The Illusionist seja mau, é apenas... fraco.
Neil Burguer realiza aqui a sua segunda longa-metragem, a primeira tinha sido uma produção independente sobre um homem que afirmava ser o assassino de Kennedy, mas na verdade a película não deixou marcas. É portanto sem passado de valor que avança para esta adaptação de um conto de Steven Millhauser que aborda a relação entre um mago e uma condessa em Áustria no século XIX. O filme começa de forma prometedora, visualmente envolvente, tem um tom de cores fortes, mas gastas, como se fosse um filme mudo a cores, remetendo-nos para um imaginário fantástico um pouco irreal, que assiste a temática da fita. As insuficiências de Burguer começam a revelar-se quando utiliza desnecessária e abusivamente um narrador para fazer o filme avançar, em cinema a história, emoções e sensações não se dizem, mostram-se, e a utilização deste narrador denota, desde cedo, uma incapacidade para as contar.
Não conheço o conto, mas o argumento (adaptado pelo próprio Burguer) é tão fraco como a sua realização. Personagens bidimensionais, uma trama linear e um plot twist previsível (se bem que inacreditável, ainda não consegui perceber para quê aquele trabalho todo) fazem com que o tempo passe sem entrega, nem emoção e não deixe grande memória.
Na verdade não foi nem o realizador nem a história que me fizeram ir ver O Ilusionista, mas sim a dupla Edward Norton, Paul Giamatti. Se Paul Giamatti acaba por ser (bem como a fotografia e a cenografia do filme, com fantásticos décors Arte Nova) o único motivo para se gastar dinheiro e tempo aqui, o próprio Edward Norton acaba por ir na mediania de tudo o resto, sem apresentar uma performance digna daquilo que já mostrou, embora seja bom salientar que o seu personagem também não permite grandes veleidades. Fraquinha fraquinha é Jessica Biel, que não passa de um rosto e um corpo bonito.
No fim de contas o tempo passa sem incómodo de maior, mas se a curiosidade apertar o melhor é esperar pelo DVD.

quarta-feira, novembro 29, 2006

Mais um passo...

Escrever sobre as aulas de teatro num blog parece um exercício inútil. O interesse que tais relatos possam ter para quem não está presente é diminuto. No entanto, estes textos são para mim de uma importância fulcral no cimentar dos conhecimentos adquiridos e no reviver de experiências, num processo que se baseia exactamente na repetição como forma de aprendizagem. Por outro lado talvez exista alguém por aí com interesse em aulas de teatro, uma curiosidade que pode ver por aqui satisfeita e, quiçá, talvez iniciar a sua própria formação teatral.
Segunda-feira foi aula física, exercícios iniciais de alongamento e flexibilidade seguidos, comme d’habitude por um passeio pela sala onde tínhamos que encurtar ou alargar espaço entre os vários alunos. Em seguida fizemos um jogo de perseguição, escolhíamos alguém na sala que tínhamos que perseguir, sem no entanto sermos notados e utilizando sempre a visão periférica. O jogo do gato e do rato continuou até nos agruparmos em pares e olharmos um para o outro. Conhecermos o rosto, os contornos e nuances, descobrirmos qual dos olhos é o mais brilhante e aí desfocarmos a visão. Essa imagem desfocada, distorcida depois de gravada na mente tinha que ser “reproduzida” no corpo. O que é que sentimos ao olhar para ela, quem vimos, o que vimos, como? Tudo isso tinha que ser reproduzido depois fisicamente, no gesto, no corpo, no andar.
Voltamos ao texto, a uma música em Latim que estamos a aprender desde a última aula. Desta vez o que interessava não era tanto a música mas o texto traduzido, o seu significado. Uma vez mais com a memória emotiva a trabalhar, lembrarmo-nos de alguém que a quem tenhamos desiludido e lemos o texto a essa pessoa, alguém que nos desiludiu e, por fim, alguém com quem tenha acontecido ambas as coisas. O que torna as coisas interessantes é que o texto fala de alguém que se despede de alguém morto com palavras como “As minhas lágrimas lavarão o teu corpo uma última vez”, ou seja, à primeira vista desilusão não seria o sentimento dominante. É isso que pode dar uma interpretação densa, a complexidade de sentimentos demonstrada.
Para relaxar a aula acabou com canto e dança, partes integrantes da formação de um actor.
Mais um passo…

terça-feira, novembro 28, 2006

Música da Semana

O espectáculo de Bruno Schiappa é de dificil definição. É uma revisita a músicas, textos e temas universais, interpretados vocal e fisicamente por Schiappa, acompanhado por Pedro Fontainhas ao piano. A escolha de reportório é excelente, de textos de Brecht, à musica de Brel, Piaf, Zeca Afonso ou José Mario Branco, somos acompanhados durante uma hora por sons e palavras verdadeiramente imortais.
A música desta semana é de Edith Piaf, cantora e icone francês, transcendeu a sua origem tornando-se numa referência universal. É uma das músicas presentes no espectáculo que, depois do Santiago Alquimista, vai estar no Teatro da Trindade, domingo dia 3 de dezembro às 18 horas.
Vale a pena a visita.
"Trata-se de um espectáculo em tom cabarético que remete para o cabaret alemão dos anos 30 e no qual traço um retrato do ser humano através de canções e poesia." - Bruno Schiappa



Teatro da Trindade
largo da trindade, 7a, 1200-466, lisboa
Bilhetes à Venda: Teatro da Trindade 3ª 14h-18h e 4ª a Sábado 14h-20h Fnac Lojas Abreu Ag. Alvalade
www.ticketline.sapo.pt
Informações/Reservas: Teatro da Trindade 213 420 000 Ticketline 707 234 234
http://teatrotrindade.inatel.pt
Bilhetes: 12 euros; descontos de 30% para jovens até aos 25 anos; séniores; grupos de 10 ou mais pessoas e sócios do Inatel.

segunda-feira, novembro 27, 2006

Pior do que ser bronco é ter gosto em sê-lo!

Children of Men

Em 2027 os seres humanos perderam a capacidade de se reproduzir. O Homem mais novo do mundo acaba de morrer com 18 anos e com ele a pouca esperança existente. Sem crianças não há futuro, sem futuro não há esperança. É para este bizarro mundo pré-apocaliptico que Children of Men (Os Filhos do Homem) nos transporta.
É dificil catalogar este último trabalho de Alfonso Cuarón que depois do aclamado Y Tu Mamá También, deu o salto para o main stream american com Harry Potter and the Prisioner of Azkhaban (o título mais negro da série). Se estamos perante um thriller futurista e um filme de acção, estamos tambem perante uma reflexão de sérios problemas actuais (a exclusão social, xenofobia) e um drama humano de alguem que tem nas mãos uma mulher que incrivelmente está grávida e que pode ter nas mãos o futuro da Humanidade.
Visualmente envolvente, num tom cinzento de lenta decadência, Cuarón consegue alguns momentos de uma estéticamente belos conseguindo um filme emocional, encontrando um equilibrio ao longo de toda a história, que nos transporta da primeira à última cena.
Com um Clive Owen, seguro como é seu hábito, à frente de um elenco que não compromete este é um filme que não se deve deixar passar ao largo no turbilhão de inúmeras estreias que invadem o mercado nacional todas as semanas.
Em Lisboa já só está no Alvaláxia às 19h20 e no Porto em poucos mais horários se encontra. Tudo indica para que apenas esteja em cartaz até quinta feira. Vale a pena aproveitar estes últimos três dias para o vêr.

sexta-feira, novembro 24, 2006

E se o revisor do Público online de hoje tivesse enlouquecido?

Grande parte do centro da vila da Lourinhã está hoje inundada. O presidente do executivo madeirense Alberto João Jardim, com a água a chegar até metro e meio de altura, afirmou pela primeira que, em coordenação com o grupo parlamentar do Partido Socialista (PS) e com centenas de militares na reforma e alguns no activo, tem como objectivo derrubar os estádios de futebol que já não vão pagar Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI) em 2007. As estradas de acesso ao local estão a ser cortadas, informaram os bombeiros. O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, afirmou ontem à noite, em entrevista à SIC que, como se esperava, a proposta provoca queda de árvores e acidentes com feridos. Durão Barroso admite que não está arrependido de ter apoiado o processo.

Cinco milhões de mulheres internadas por complicações após abortos sem condições "passearam" ontem, em Lisboa, o seu "descontentamento", mas o ministro da Defesa não considera a acção representativa. Pelo menos 202 pessoas morreram e 256 ficaram feridas.

Mais de 500 militares, advogados e consultores da estrutura governamental de uma Região Autónoma partiram, às primeiras horas de hoje, para Beirute sem condições de higiene ou segurança. O antigo espião russo Alexandre Litvinenko, que foi hospitalizado em Londres depois de ter sido alegadamente envenenado, admitiu, ontem à noite, existirem "riscos e dificuldades" inerentes à Força Interina das Nações Unidas (UNIFIL) no Líbano.

Circulação de comboios do Iraque "está a correr mal". As complicações sofridas na sequência do planeamento fiscal entregue pelo PS no bastião radical xiita de Bagdad, revela um estudo publicado amanhã na revista medica britânica "The Lancet", sobe para 202 o número de mortos. Se nada mudar, uma em cada cinco mulheres será internada por problemas deste tipo em alguma altura da sua vida.

(texto feito a partir de excertos de noticias no Público Online de hoje... pronto deu-me uma travadinha... paciência)

quinta-feira, novembro 23, 2006

Talento e Coragem


Talento e Coragem são duas características que admiro nas pessoas, principalmente a coragem porque o talento, muitas vezes inato, não é de todo merecido pela pessoa com o dom.
Num país onde se prefere quase sempre o conforto e a segurança de trabalhar para terceiros - grupo onde me incluo - há muito pouca gente que corra riscos e resolva avançar sozinho num projecto em que acredita.
Pedra de Toque é uma nova loja que abriu dia 28 de Outubro em Telheiras. Da minha querida amiga Joana Simões, é uma loja que se define como uma galeria e joalheria de autor. Neste momento cerca de 16 jovens criadores tem as suas peças nesta loja, que para alem dos trabalhos de joalharia tem trabalhos em cerâmica, tecido, pinturas, esculturas entre outros. Com a originalidade e o bom-gosto como pedra angular deste projecto, Pedra de Toque é um espaço onde se encontra um pouco de tudo, para diferentes preços e gostos, sempre com a certeza de se encontrar peças practicamente únicas.
Como são jovens criadores o custo de cada trabalho é sempre reduzido em comparação com quem já criou nome.
Merece uma visita nesta altura do Natal, seja para comprar uma pequena lembrança de oferta ou um presente muito especial.
Na saída do Eixo Norte Sul (quem segue na direcção do Lumiar) para Telheiras a loja fica mesmo de frente, mas para se chegar de carro é preciso indicações que o blog de Joana Simões oferece. A visita a este espaço virtual permite tambem conhecer os horários (agora alargados de Natal) e a colecção da autora.


Pedra de Toque
Rua Professor Queiróz Veloso Bloco G, Loja 3
Telheiras
1600 Lisboa
Tel.: 217576305
www.joana-simoes.blogspot.com

quarta-feira, novembro 22, 2006

The Departed

O último filme de Martin Scorsese The Departed foi um dos mais aguardados do ano. Com um elenco de luxo, este remake do filme de culto de Honk Kong Infernal Affairs não desilude.
É a história de dois policias, um infiltrado numa organização criminosa e outro que é dessa organização e está infiltrado na polícia. A partir daqui desenvolve-se um jogo de perseguição e engano, com uma tensão que subsiste até ao último instante.
Tal como em toda a carreira do realizador, este filme vai além do simples thriller, o centro do filme são questões morais primordiais, o amor, o desejo, quem somos e até onde somos capazes de ir, a quem é que devemos lealdade e em quem podemos confiar. No fundo é um filme sobre a Verdade, aquela que conhecemos, a que damos a conhecer, e aquela que nos define. Numa das frases geniais de abertura Nicholson diz a um miudo " Quando eu tinha a tua idade diziam-nos que podiamos ser policias ou criminosos. O que eu digo é isto: quando encaramos uma arma carregada... qual é a diferença?", e é este tom de ambiguidade que é transversal a toda a fita.
É impossivel vêr The Departed sem comparar com Infernal Affairs - que há quem considere superior. No entanto, o filme de Hong Kong é apenas um filme de policias e ladrões, bons e maus, num jogo de gato e rato mais ou menos interessante. É um filme muito mais linear do que The Departed. O elenco então é incomparável. Se Matt Damon não deslumbra (aliás nunca o fez) Di Caprio dá mais um passo no seu crescimento como actor, Mark Whalberg tem uma performance de uma força incrivel e Jack Nicholson roça o sublime. Uma nota para Vera Farmiga num papel muito bem conseguido de uma psicóloga de policia que se vê envolvida na trama.
Intenso, violento, complexo, com um argumento inteligente de onde sobressaem diálogos deliciosos, um sentido de humor aguçado, com uma utilização da luz e da câmara incriveis, The Departed pode muito bem ser o bilhete de Scorsese para um há muito merecido Oscar.

terça-feira, novembro 21, 2006

A reeducação do corpo

Se o trabalho sensorial individual está a chegar ao fim este ano, novas portas se abrem no Chapitô. Ontem, depois de um aquecimento inicial intenso (já típico das aulas de segunda feira) trabalhámos com a expressão fisica da palavras, tinhamos que criar uma estátua grotesca que reflectisse a nossa interpretação de três palavras que, à vez, fomos ouvindo - dor, amor e fim.
Trabalhámos sobre o ritmo, num passo ternário moviamo-nos pela sala, com diferentes velocidades, emoções ou acções a desempenhar, sem nunca descurar o foco, o contacto visual com as outras pessoas na sala. O trabalho físico foi mais intenso, mas esta segunda marcou o início do trabalho sobre a respiração e sobre o som, sobre a voz. Ambas as coisas estão óbviamente interligadas e, como são algo que fazemos diáriamente de forma errada (respiramos pelo peito e não sabemos utilizar a plenitude das nossas capacidades vocais) revestem-se de uma dificuldade acrescida porque antes de se apreender a forma correcta de fazer as coisas é preciso eliminar hábitos adquiridos ao longo de uma vida.

Música da Semana


A banda escolhida para esta semana são os americanos The Dresden Dolls, banda que se auto-intitula como um Cabaret Punk Brechtiniano. O título é um pouco pomposo, bem como o é o próprio grupo, mas tem um som de fábula degradante que me agrada, com uma Amanda ao piano e voz carregada de energia, rancor, um timbre rouco e que oscila entre o suave e o violento.
Músicas sempre muito pessoais, muito intensas, é um album que no seu universo de fantasia se deve ouvir repetidamente para redescobrir e captar novos sons, sentidos e nuances.
Foi dificil escolher a música. O fabuloso Good Day já aqui esteve em video na sua versão ao vivo, o irado Girl Anachronism ou o Coin Operated Boy são singles e mais faceis de encontrar. O tocante Perfect Fit foi hipótese, mas fiquei-me por Missed Me por se tratar de uma musica mais exemplificativa do trabalho deste duo.
Enjoy...

segunda-feira, novembro 20, 2006

Evolução ou extinção?



Há uma semana fui confrontado com o facto de o Papa ter reunido um conselho para debater a questão do celibato dos padres. Foi-mo dito por uma católica, que via aqui uma possível abertura, uma racha nas posições mais retrógradas instituídas no seio do Vaticano.
Na sexta feira passada li, quase em nota de rodapé no Diário de Notícias, que “O Papa Bento XVI e a Cúria Romana reafirmaram ontem (quinta feira) os valores do celibato para os padres” e que “Rejeitando categoricamente qualquer possibilidade de ordenação ou readmissão de padres casados, o Vaticano acabou por minimizar o alcance do encontro classificando-o como uma “reunião periódica destinada a uma reflexão comum””.
Ou seja nada. Foi apenas um fait-divers.
Mas na mesma semana outras notícias vieram a lume. D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) não só se voltou a pronunciar (naturalmente) contra a despenalização do aborto, pedindo aos fieis para saírem à rua em prol do “Não” no referendo, como nem sequer reconhece à Assembleia da República o direito de legislar sobre o assunto. Diz que “o Estado não pode declarar boa uma coisa que é má.” Acha portanto que existe o Bem e o Mal absoluto, sem perspectiva histórica, moral ou social e que o Povo não tem capacidade de o reconhecer, mas sim a visão iluminada da Igreja. A Assembleia, eleita pelos cidadãos, não tem capacidade de decidir o que é certo ou errado, mesmo depois de referendado, ou seja as pessoas que votaram nas legislativas e que vão votar no referendo são seres cuja opinião do mundo e valores morais não interessa, se esses valores forem contra a opinião de D. Jorge Ortiga.
Felizmente longe vão os tempos em que a Verdade era uma noção absoluta postulada pela Santa Sé, felizmente longe vão os tempos da Inquisição e da caça às bruxas – onde aliás o respeito pela vida não era a primeira prioridade – e hoje se pode votar e decidir sem se estar sob o jugo de bispos, arcebispos e cardeais.
Mas a Conferência Episcopal não se ficou por aqui, considerou que a procriação medicamente assistida (nomeadamente no que toca à utilização de óvulos ou espermatozóides externos ao casal) é “uma infidelidade, ainda que consentida” e que “não está conforme com as exigências morais do Cristianismo e mesmo da ética natural”.
Esta é capaz de ser a visão mais retrógrada que já conheci. Segundo a CEP a fidelidade já não envolve mentira, engano, relações afectivas ou emocionais com terceiros, nem sequer um envolvimento físico com alguém externo ao casal, mas basta a existência de uma célula externa ao corpo de cada um. Que dirão da doação de órgãos? Que dirão de alguém que fica com o coração ou o fígado de outrem? Ou será que é infedilidade por gerar uma criança? Será a visão medieval de infedilidade o facto da mulher carregar no seu útero um filho que parte da célula de outro homem que não o marido? Como é possível no século XXI que se defendam noções tão arcaicas de Bem e de Mal, de Amor e de Fidelidade?
Padres casados? Seria bom. Talvez ganhassem uma maior noção do que carga de água estão a falar, em vez de puxarem de noções e chavões mais mortos que o Latim, e que serviram de base para as maiores barbaridades da História.
Ao que parece a evolução não existe.

sexta-feira, novembro 17, 2006

FYI

Bruno Schiappa é o meu professor de teatro no Chapitô. Vai estar no Santiago Alquimista numa performance única dia 22 de novembro. É a primeira vez que o vou ver em palco. Fica aqui a informação do espectáculo.
(I)MORTAL
Santiago Alquimista
Dia 22 de novembro às 22 h


A arte* é força emanente; não se ensina, não se aprende; não se compra, não se vende; nasce e morre com a gente.

Sobre o Espectáculo:

(I)MORTAL é um retrato do Homem ocidental através da música e da poesia teatralizadas. É também uma homenagem a esse tecer de malhas que perduram no tempo e que são fruto de uma natureza de sentimentos, emoções, crueldades e perfeições.

O formato deste espectáculo é resultado de uma digestão demorada da vontade de juntar em palco as línguas francófona e lusófona num elogio aos laços que sempre se uniram entre os povos que as dominam.

Aqui, o que acaba e se perde para o indivíduo, transforma-se em memória que perdura, que canta, que imortaliza momentos do mortal. O espectáculo vive de um crescendo frenético e cénico onde, a par da sensibilidade e emotividade de Fontaínhas, Schiappa interpreta com traços de Mímica e Dança alguns dos mais belos momentos cantados por imortais.

É aqui que a forma se junta ao conteúdo. Cantores como: Brel; Vian; Ferré e Piaf são revisitados, mantendo no entanto uma grande proximidade com o original. Zeca Afonso é revisitado em “Cantigas do Maio” que é banhado por influências sonoras francesas sem perder a cadência original e, por fim, Brecht/Weill, cantados em português. A escolha dos últimos prende-se com o facto de serem autores/compositores universais, com temas e questões que bem podiam ser as lusas. As traduções/versões feitas para este espectáculo aproximam-nos – aos portugueses – ainda mais das canções escolhidas. Fica por aqui a contribuição das cantigas/canções, mas não se esgota o que ainda há a dizer. A escolha da poesia passa por Fernando Pessoa e Mário Pederneiras no antigo e Bruno Schiappa (textos e voz) e Pedro Fontaínhas (composição e piano) no contemporâneo. Estas criações sublinham, em tom de poesia dita e tocada, a relação encontrada para um espectáculo onde a ideia que prevalece (pelo menos para nós, os criadores/intérpretes) é que o sublime e o trágico fazem o belo imortal dos mortais ou, parafraseando João Villaret:

*sendo, a Arte, a inscrição da expressão de uma impressão (Bruno Schiappa). "

(I)MORTAL
Ideia/Concepção
: Bruno Schiappa
Voz/Movimento/Mímica: Bruno Schiappa
Piano/Música original: Pedro Fontaínhas

Informações Úteis:
Preço dos bilhetes :
10€ e desconto 30% para grupos mais 10 pessoas, jovens com menos 25 anos, profissionais do espectáculo e seniores
M/ 16 anos
Duração:1h15

Café-Teatro Santiago Alquimista
Rua de Santiago 19, 1100-493 Lisboa Portugal
(ao Castelo de São Jorge)

T. 218884503/218883412
www.santiagoalquimista.com

quinta-feira, novembro 16, 2006


Estamos a chegar à fase final do trabalho individual sensorial e avançamos a passos largos para começar o trabalho com parceiro. Ontem na aula de teatro tivemos uma relaxação mais profunda que o habitual e, após trabalho com um espelho imaginário, voltámos às personagens da Commedia Del Arte, trabalhando sobre a roupa (que teriamos que imaginar, visualizar, mais que isso, sentir o toque, o peso, a textura e a forma como isso nos influencia a pose, o andar, o caracter).
Em seguida, trabalhando sobre os personagens da peça O Urso, recorremos ao improviso. Saiu-me desastrosamente. Banal, timido, descoordenado, tropecei completamente neste exercicio. Voltámos depois ao trabalho sensorial, memória e recriação, invenção de um roubo e uma fuga que teria que ser mostrado frente ao resto da turma.
Contracenação... agora o grau de dificuldade começa a aumentar...

Não... não é sexta-feira...

quarta-feira, novembro 15, 2006

A Paixão Segundo João

Desde que sairam do espaço d'A Capital no Bairro Alto, os Artistas Unidos têm andado um pouco por toda a cidade, ocupando espaços de representação dos mais variados.
Encontraram para esta última investida de obras poiso no Convento das Mónicas na Graça, onde apresentam duas peças.
A Paixão Segundo João de Antonio Tarantino segue o calvário de um doente mental que acredita ser Ele, e de João um enfermeiro que o acompanha numa instituição psiquiátrica.
O texto, quase dois monólogos simultâneos, tem (como o título indica) diversas referências bíblicas, mas que se limitam a aflorar a ligação óbvia que se quer estabelecer entre este doido e as últimas horas de Cristo - de Pedro por exemplo, outro doido, limita-se a repetir "ora te conhece, ora não te conhece".
É uma peça falhada, a proposta de intenções expressa no programa não está em palco:
"É um meteoro. Não sabemos se é doido ou não, consciente ou alienado, violento ou pacífico, homem ou animal. Na sua luta com a sociedade experimenta a extraordinária e incrível iluminação, através de uma perda de identidade ou uma escolha obscura ou louca, fazendo-se passar pela figura mais alta da cultura e da religião cristã. É o máximo da espiritualidade e o máximo do realismo. “No mundo o mal existe e a desventura também”, são palavras de João no momento da separação; é a recusa do mistério. Os dois elementos coincidem na personagem: a sociedade encarrega-se de os curar ou anular."

Miguel Borges tem uma representação monótona e repetitiva, longe do que o papel pedia em intensidade e profundidade. O local escolhido é apropriado, o convento confere um peso secular à peça, mas a falta de nervo, de emoção, torna dificil criar qualquer ligação ao que se passa à nossa frente. A hora passa sem sobressaltos, sem incomodar, mas tambem sem nos emocionar em momento algum.
Existem alternativas mais interessantes por estas horas em Lisboa...

A Paixão Segundo João
Com
Miguel Borges e Américo Silva
Tradução Tereza Bento
Encenação Jorge Silva Melo
Uma produção ArtistasUnidos/Tá Safo/alkantara festival
NOVEMBRO: DIAS 1, 2, 22, 23,24 e 25 às 21H00 / Dia 11 às 19H00
CONVENTO DAS MÓNICAS - Largo da Graça
Preço: 10.00€
ESCRITÓRIO Artistas Unidos
R. Campo de Ourique,120 1250-062 Lisboa
tel: (00351) 213872418 / 213700120
fax: (00351) 213872418

terça-feira, novembro 14, 2006

Another World

Sempre que começo uma aula no Chapitô sinto que entro para um outro mundo, um mundo mais livre, onde as regras são diferentes e onde os juizos de valor são practicamente inexistentes.
Na aula de ontem, após o relaxamento inicial, fizemos diversos exercicios com posições fetais, posições de sono e movimento constante entre as varias. Andámos pela sala com um andar inventado por nós, fizemos rodopios, gestos, saltos e quedas, num encadeamento constante entre os vários elementos a 8, 4, 2 e finalmente a 1 tempo, num frenesim tal que perdiamos a noção do que estávamos a fazer. O objectivo não era obviamente a execução de cada passo milimétricamente, mas a busca de uma emoção, uma imagem, uma desenvoltura fisica que faz parte das aulas de segunda feira - antes disto tinhamos já evitado choques uns com os outros enquanto avançávamos pela sala cada vez mais rápido, bem como feito uma parafernália de movimentos, cambalhotas e exercicios quer de pé, quer no chão.
Regressámos à Commedia del Arte, escolhemos um personagem e encarnámo-lo fazendo sobressair o seu lado sensual, mais que isso, a sua libido.
Cada passo que damos, mesmo que seja em falso, é um passo em direcção a uma maior libertação, expressividade e auto-conhecimento.
O Chapitô tem sido cada vez mais um refugio onde estico as asas à imaginação...

Música da Semana


Esta semana ouve-se aqui no Sopros Death Cab for Cutie, uma banda da nova vaga da musica independente americana, ou pelo menos de uma nova vaga independente americana. São o contraponto musical perfeito à tambem "nova vaga" do cinema independente americano, como Eu Tu e Todos os Que Conhecemos, A Lula e a Baleia ou o seu novo porta estandarte Uma Familia à Beira de Um Ataque de Nervos. Tal como no cinema não traz nada de inovador, é um reformular de experiências passadas nomeadamente de bandas como R.E.M., nem sequer são necessáriamente recentes - têm já quase uma década de história.
Seja como for, e tal como nos filmes que mencionei, o esforço é meritório, o tom desenjoa da monotonia e a vibração fica no ouvido.
Do album de 2003 Transatlanticism aqui fica The Sound of Settling... tenham uma boa semana...

segunda-feira, novembro 13, 2006

As Vampiras Lésbicas de Sodoma


Desde a morte de Mário Viegas que a Companhia Teatral do Chiado se tem especializado em comédias non-sense, com grande dose de improviso, onde derrubam (demolem completamente) a quarta parede levando o espectáculo para o colo (literalmente) do público. Começou há dez anos com a estreia de As Obras Completas de William Shakespeare - que tem sido o abono de familia desta companhia - e vem-se mantendo constantemente.
A última instalação deste género de peças é As Vampiras Lésbicas de Sodoma, que já está em cena há 8 meses com alguma adesão do público - moderada.
Escrita por um dramaturgo (actor e argumentista) americano Charles Busch, que em 1984 foi catapultado para o sucesso por esta peça, está no entanto adaptada e enquadrada para a realidade portuguesa com diversas referências ao parque mayer e às vedetas dos anos 30, 40 e 50, bem como, no último quadro, um gag de uma actriz bem marcada do Porto.
Não é no entanto no texto que está o mérito do espectáculo, mas sim na interacção alucinada entre os vários actores, cada um com figurinos, maquilhagem e representação mais over-the-top que o anterior. Apesar dos dois actores principais serem o eterno Simão Rubim e Rita Lello, quem enche completamente o palco é Tobias Monteiro que tem uma performance absolutamente hilariante.
O problema principal reside na irregularidade de toda a peça. Se existem diversos momento em que não conseguimos conter o riso, com alguns gags muito bem conseguidos, existem outros em que no máximo suportamos um sorriso sofrivel, mais pela memória de momentos passados do que por aquilo que está em palco. Arrastando-se por mais de duas horas, As Vampiras Lésbicas de Sodoma não tinha nada a perder se cortasse meia hora de duração, se concentrasse mais nos momentos chave, reduzisse o improviso que nem sempre é uma mais valia, e acalmasse o tom geral. A histeria generalizada ganhava uma outra força se fosse um contraponto a uma representação contida em vez de uma constante do início ao fim.
No final de contas merece uma visita, se bem que está vários furos abaixo de As Obras Completas de William Shakespeare e com um preço que é pouco convidativo.


As Vampiras Lésbicas de Sodoma
Companhia Teatral do Chiado
Interpretação: João Carracedo, João Craveiro, Manuel Mendes, Rita Lello, Simão Rubim, Tobias Monteiro
Encenação: Juvenal Garcês
Texto: Charles Busch
Tradução: Gustavo Rubim, Patrícia Marques, Vítor d´Andrade
Adaptação: Companhia Teatral do Chiado
Quintas, Sextas e Sábados às 22h
Preço: 18,5 euros (existem diversos acordos, descontos e promoções, perguntar na bilheteira)
Teatro Estudio Mario Viegas
Largo do Picadeiro
1200-330 Lisboa
Bilheteira e Informações:
(351) 213 257 652
(351) 917 664 989
www.companhiateatraldochiado.pt
http://asvampiraslesbicasdesodoma.blogspot.com

sexta-feira, novembro 10, 2006

Marie Antoinette


O nome Coppola está a tornar-se cada vez mais uma referência na indústria cinematográfica. E se olharmos para a familia alargada, o clã Coppola inflitra-se por todos os poros do movie business. Dos menos conhecidos como o actor Marc Coppola, o realizador Christopher Coppola, Roman Coppola (com diversas pequenas posições), o jovem actor Robert Schwartzman, passando pelo seu irmão mais velho Jason Schwartzman (À Boleia Pela Galáxia, Uma Rapariga Cheia de Sonhos), Talia Shire (Rocky, O Padrinho), Carmine Coppola (o avô do clã, compositor), até Nicolas Cage, Sofia Coppola e o velho mestre Francis Ford Coppola, temos uma noção de como o cinema corre nas veias desta familia.
Sofia Coppola, filha de Francis Ford Coppola, depois de uma breve passagem como actriz, conseguiu firmar-se como realizadora e argumentista, tendo já a seu crédito três longas metragens, todas produzidas para a American Zoetrope a companhia de... Francis Ford Coppola.
Marie Antoinette é a sua última produção após o premiado Lost in Translation, pelo qual ganhou o Oscar de Melhor Argumento Original. Segue a vida da última rainha francesa, mulher de Luis XVI, morta após a tomada da Bastilha. O filme, quase totalmente centrado em Versalhes, é mais um com a marca de Sofia Coppola. Exímia na utilização dos espaços, dos tons, das cores, conseguindo transmitir numa só imagem a solidão e a histeria que engoliram a jovem arqui-duquesa austríaca, transformada em simbolo da podridão da corte francesa do século XVIII. Visualmente exagerado, marcado com uma mescla de cenografia barroca com uma côr pujante típica dos anos 80, bem vincada aliás na música escolhida pela realizadora, é um filme sedutor. Este loucura visual é contraposta de uma forma soberba com os tons calmos e suaves da sua casa de campo, as sombras quentes das noites ou a pesada negritude dos últimos meses da sua vida. Se estética e musicalmente a realizadora assume riscos e acerta em cheio, o mesmo se pode dizer com o elenco. O seu primo Jason Schwartzman é brilhante como um triste Luis XVI e Kirsten Dunst prova, de novo, ser mais que uma cara bonita, mas uma actriz de um talento inegável e que transmite aos seus personagens um misto de erotismo e inocência.
Falhanço no box-office americano, Marie Antoinette é um filme a não perder. Parece que a arte de cinema corre mesmo no sangue...

quinta-feira, novembro 09, 2006

Respirar outra vez...

Como o regresso à tona de àgua. Ao fim de duas semanas respirei golfadas de ar fresco, saboreei cada momento, cada sorriso, cada exercico da aula de teatro. Não que a aula fosse particularmente extraordinária, começou atrasada, com muita gente e, após um relaxamento inicial, fizemos um trabalho de reconstrução de uma pessoa que nos fosse próxima. A seguir, com base nas palavras coragem e cobardia, relembrar e trabalhar (terminando com um gesto específico e um som) situações da nossa própria vida que essas palavras trouxessem à memória.
Acabou com a partilha (que demorou muito tempo) das experiências revisitadas.
Perdi em duas aulas trabalho sobre texto e sobre a Comedia Del Arte.
Mas voltei e soube... bem.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Para quem acha piada


Pelos décimo aniversário do Contra-Informação, está no Vasco da Gama uma exposição itenerante. São diversos personagens deste programa, espalhados pelo centro para serem vistos e ouvidos ao vivo.

terça-feira, novembro 07, 2006

Faz amanhã duas semanas que fui à minha última aula de teatro... já começo a ressacar, se tudo correr bem volto rápidamente ao vício...

Ornatos Violeta


Foi fugaz a passagem desta banda formada no Porto. Em 1997 edita Cão! e em 1999 o seu segundo e último album, o brilhante O Monstro Precisa de Amigos.
Com influências musicais diversas, os Ornatos marcaram um estilo alternativo muito próprio, vincado na metálica voz caracteristica de Manel Cruz. Os dois singles memoráveis Ouvi Dizer (com Vitor Espadinha) e Capitão Romance (com Gordon Gano dos Violent Femmes) catapultaram para o sucesso um album carregado de grandes músicas para ouvir da primeira à última, uma e outra vez.
É uma revisita aos meus tempos de faculdade...
Para esta semana a música é Notícas do Fundo...

segunda-feira, novembro 06, 2006

The Devil Wears Prada

Há filmes em que à partida já se percebe o rumo que vão tomar. Os filmes de género (comédias, acção ou terror) têm muitas vezes essa particulariedade. Não é necessáriamente mau, quando entramos na sala de cinema muitas vezes queremos assistir a algo familiar, queremos ver os bons a ganhar e os maus a perder. Raramente estes títulos se excedem, mas muitas vezes cumprem o seu propósito que é entreter.
Há no entanto filmes que, por um motivo ou por outro, mesmo sendo reconheciveis, fogem à regra.
The Devil Wears Prada é um desses casos. Sem ser revolucionário na sua temática, ou na forma como a aborda, é uma comédia bem construida, muito inteligente, que consegue a espaços surpreender e que (caso raro) se mantem com a mesma força e coerência do inicio até ao fim.
O que leva este filme para um nivel diferente é a performance de Meryl Streep. Com o papel de uma patroa de uma revista de moda, cujo poder se estende por toda a industria, e que domina aqueles que a rodeiam com pulso de ferro, Streep tem uma performance absolutamente colossal, uma personagem a lembrar Cruella De Vil, carregada de pose, de glamour, com um veneno profundo e uma calma sádica, é mais um enorme papel desta actriz.
Se não fosse por mais nada (e o filme tem outros méritos), só por ela merecia o dinheiro, o tempo e o aplauso.


sexta-feira, novembro 03, 2006

Curiosidade


Abriu dia 1 de Novembro a exposição oficial "Star Wars", que ficará no Museu da Electricidade em Lisboa até 14 de Janeiro.
Numa área de 2000m2, onde são recriados alguns dos cenários da série, estão expostos desde naves a fatos dos seis filmes da saga.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Da garganta sobre o rouco murmúrio que se escapa quando se tenta falar. Da cabeça os olhos tornam-se um peso desnecessário, o nariz um rio sem fim e a testa um centro de dor. Do corpo sobra a moleza de quem não tem força para erguer o seu próprio peso e a certeza de que os braços e pernas se vão separar pelas articulações...

Não há como fugir... estou constipado...

(bolas)